Gonzalo Vecina*, O Estado de S.Paulo
Os dados dos países com melhor cobertura vacinal confirmam o poder dos imunizantes em uso no Hemisfério Norte, para conter a pandemia. Seja com vacina de AstraZeneca ou Pfizer, esses países estão conseguindo derrubar o número de casos novos e óbitos. Israel, Escócia, entre outros, são exemplos importantes.
O Brasil com suas 38 mil salas de vacinação, aplicando uma vacina a cada 5 minutos em 8 horas de funcionamento por dia e trabalhando 20 dias por mês, conseguiria vacinar 60,8 milhões de pessoas por mês. Temos como meta vacinar nesta primeira fase a população com mais de 18 anos. Cerca de 160 milhões de brasileiros com duas doses da vacina, significa aplicar 320 milhões de doses de vacina. Poderíamos vacinar toda a população em 5,3 meses com um bom projeto de vacinação. Ou seja, se tivéssemos recebido vacina em janeiro, terminaríamos esta fase no início de junho!
E com certeza teríamos uma queda no número de mortes já a partir de final de março, como ocorre na Escócia neste momento. Sem lockdown. Sem colapso de hospitais. Mas o ministro da Saúde foi tentar comprar vacinas em março, quando poderíamos já estar diminuindo o número de mortes.
Não colocarei em discussão o desprezo pelas medidas não farmacológicas, como o lockdown, que foram fundamentais para reduzir mortes na Europa ou em Araraquara, não vou discutir o gasto inútil com medicamentos que além de ineficazes, como os do kit covid, ainda apresentam sérios efeitos colaterais, não discutirei a maneira como o presidente tratou o uso fundamental de máscaras, para o controle de uma doença de veiculação aérea, a ausência de coordenação federal na falta de oxigênio em Manaus e as mortes daí decorrentes, ou a incapacidade de o governo federal achar alternativas para a falta de medicamentos fundamentais para realizar intubação de pacientes gravemente enfermos da covid.
Neste momento quero discutir quantas mortes das mais de 390 mil oficiais poderiam ter sido evitadas, por um governo que, cumprindo a lei do PNI de 1975, tivesse comprado vacinas e as distribuído para serem aplicadas. Cumprir a lei! A pandemia está longe de acabar e muitos são os erros ainda a serem cometidos pelos incompetentes que ocupam os cargos em Brasília, mas estes erros custarão mais vidas. Gente do próprio governo já está em público admitindo suas responsabilidades no caso, como fez o ex-secretário de Comunicação do governo em publicação da revista Veja. Essas afirmações explicam as mortes que estamos tendo por não vacinar.
O capitão tem um general que declarou que uns mandam e outros obedecem e foi o que ele fez no ministério. Evitou tomar as medidas de puro bom senso em relação ao controle da pandemia. Evitou comprar vacinas, declarou guerra ao Butantan quando este lhe ofereceu vacinas, não aceitou comprar as da Pfizer por absoluta ignorância sobre os termos de compra. Não realizou a tarefa constitucional que cabe ao Ministério da Saúde de coordenar o SUS. E a consequência foram mortes. E vamos precisar de uma CPI para apurar os responsáveis por esta incúria que custou a vida de milhares de brasileiros?
E, ainda, foi esse governo que ao mesmo tempo não quis se ombrear à Índia e à África do Sul na questão das patentes e também ignorou a necessidade de comprar vacinas. Existem sim responsabilidades a serem apuradas e muitas ações a serem realizadas para deter a marcha macabra desta pandemia. E o responsável não é somente um general.
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